Leia a íntegra desta notícia no site da Liga de Combate ao Câncer de Bento Gonçalves, entidade sem fins lucrativos cuja missão é ajudar e apoiar pessoas com a câncer e auxiliar a comunidade no combate e na prevenção da doença.

Liga de Combate ao Câncer de Bento Gonçalves alerta para malefícios à saúde por conta do manuseio e consumo de produtos com agrotóxicos

19/01/2024

Acompanhando o posicionamento do INCA, entidade incentiva redução progressiva de produtos químicos a fim de minimizar impactos na saúde e agravamento para um possível desenvolvimento de câncer

 

O uso de agrotóxicos tem potencial para ser nocivo tanto a quem os manuseia quanto aos que consumem produtos cultivados a partir de altos índices de aplicação de pesticidas. Esse problema que se tornou crônico desde que a produção agroalimentar em alta escala se desenvolveu em todo o planeta possui reflexos diretos na saúde humana – podendo levar, até mesmo, ao desenvolvimento do câncer. Diante desse cenário, a Liga de Combate ao Câncer de Bento Gonçalves se posiciona no sentido de alertar a população sobre a necessidade de cuidados cada vez mais frequentes acerca do manuseio, para quem lida com os produtos no campo, e do consumo, optando por produtos de procedência com a menor interferência de agrotóxicos possível.

Embora a produção agrícola do país necessite de produtos químicos sintéticos para combater insetos, larvas, fungos ou carrapatos em lavouras, sob a justificativa de controlar as doenças provocadas por esses vetores e de regular o crescimento da vegetação, é necessário prudência. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), são registradas 20 mil mortes por ano devido o consumo de agrotóxicos. Já a Organização Internacional do Trabalho (OIT) afirma que os agrotóxicos causam 70 mil intoxicações agudas e crônicas anualmente e que evoluem para óbito, em países em desenvolvimento. Outros mais de sete milhões de casos de doenças agudas e crônicas não fatais também são registrados. O Brasil vem sendo o país com maior consumo destes produtos desde 2008.

Frente a isso, a Liga acompanha o posicionamento do Instituto Nacional de Câncer (INCA) contra as práticas abusivas do uso de agrotóxicos no Brasil e ressalta seus riscos à saúde, em especial nas causas do câncer. A posição do INCA se baseia a partir do cenário brasileiro, em estudos científicos desenvolvidos e nos marcos políticos existentes para a regulamentação do uso dos agrotóxicos, recomendando a redução progressiva e sustentada desse uso, como previsto no Programa Nacional para Redução do uso de Agrotóxicos (Pronara). O INCA apoia a produção de base agroecológica em acordo com a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica.

"O uso de agrotóxicos é uma solução aplicada pelos produtores em suas plantações, mas precisamos alertar para um contexto muito maior que está por trás do uso dos produtos químicos. Muitos estudos já apontam para os malefícios da utilização exagerada de pesticidas, para quem consome e especialmente a quem manuseia. Precisamos de uma conscientização coletiva sobre a adoção de hábitos de vida mais saudáveis, e isso inclui a redução do uso de agrotóxicos. A Liga segue em seu posicionamento e no compromisso de conscientizar para que mais pessoas entendam essa preocupação, que deve ser todos", enfatiza a presidente da entidade, Maria Lúcia Gava Severa.

 

Uso moderado pode ser a solução a curto prazo

Se a mudança de cultura e de pensamento por completo acaba sendo mais difícil no momento, moderação se torna a palavra-chave. Estudos da Agência de Vigilância em Saúde (Anvisa), de 2018, apontam que alguns grupos de agrotóxicos são cancerígenos. Por outro lado, se forem observadas as regras que cada tipo de agroquímico contém em sua embalagem, ou levadas em conta as recomendações dos profissionais do setor, durante sua aplicação, os níveis de segurança aumentam e os riscos de efeitos no organismo humano é minimizado. De acordo com o engenheiro-agrônomo Heleno Facchin, especialista nos segmentos químico (herbicidas, inseticidas, fungicidas e fertilizantes) e de biotecnologia (sementes), com atuação em diversas regiões do Brasil, tudo que é em excesso é prejudicial. "O que diferencia o remédio do veneno é a dose", diz.

O agrônomo cita que o uso correto dos químicos tem o potencial de reduzir os problemas ocasionados por eles. "Quando os defensivos são usados corretamente, os alimentos terão níveis de resíduos dentro dos limites máximos estabelecidos pela Anvisa. Os resíduos de agroquímicos nos alimentos fazem mal se a quantidade estiver acima dos limites definidos na Ingestão Diária Aceitável (IDA)", comenta.

Porém, o especialista reitera que, sim, doenças, entre elas o câncer, podem ser derivadas do uso inapropriado. "Os agroquímicos, assim como todas substâncias químicas, podem desencadear doenças quando usados inadequadamente, de forma irresponsável, e principalmente quando houver alguma exposição, aguda ou crônica. Produtos químicos, em geral, podem desencadear problemas que vão de infertilidade, impotência, abortos, malformações, neurotoxicidade, desregulação hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico e até diversos tipos de câncer", destaca.

 

Recomendações para minimizar os impactos em quem manuseia os agrotóxicos

O agrônomo reforça as seguintes orientações que o produtor deve observar na hora de optar por usar agrotóxico para combater inços em sua lavoura:

- Antes de comprar um produto fitossanitário, é fundamental consultar um engenheiro-agrônomo para fazer uma avaliação correta dos problemas existentes na propriedade. Como qualquer profissional, o agricultor deve conhecer seu negócio para identificar com exatidão quais as pragas, doenças, invasoras e demais fatores limitantes que estão prejudicando sua produção;

- No caso dos agroquímicos, é preciso entender que eles são como remédios para as plantas. Então, como as medicações humanas devem ser receitadas por um médico, as recomendações sobre tratamentos em vegetais devem ser feitas e receitadas por um agrônomo por meio de um documento chamado receituário agronômico. Além disso, cada produto é acompanhado de uma bula, que também auxilia o agricultor com várias orientações sobre o uso correto e seguro;

- As doses recomendadas pelos fabricantes são garantidas por uma série de estudos feitos antes da autorização para produção e comercialização. São estudos associados tanto aos riscos agudos (que são as exposições num curto prazo em grande quantidade) quanto aos riscos crônicos (que são exposições constantes por um longo prazo);

- Além disso, todos os defensivos agrícolas têm recomendações quanto ao tempo entre a última aplicação e a colheita. Durante o intervalo de segurança, os resíduos de defensivos, assim como de qualquer outra substância química, são degradados.