Leia a íntegra desta notícia no site da Liga de Combate ao Câncer de Bento Gonçalves, entidade sem fins lucrativos cuja missão é ajudar e apoiar pessoas com a câncer e auxiliar a comunidade no combate e na prevenção da doença.

Cigarro faz mal também para o bolso

19/05/2017

Liga de Combate ao Câncer trouxe a Bento Gonçalves especialistas José Miguel Chatkin e Luiz Carlos Correa da Silva para debater ações contra o tabagismo na programação alusiva ao Dia do Basta

No afronte à indústria do tabaco, a Organização Mundial da Saúde (OMS) ensaia meios para inibir o poderio econômico do concorrente com a mesma criatividade dos publicitários das grandes corporações do fumo. A ideia, neste ano, foi apostar nos malefícios do vício causado também ao bolso do fumante.

O tema cercou o bate-papo promovido pela Liga de Combate ao Câncer de Bento Gonçalves com os médicos especialistas em Pneumologia José Miguel Chatkin e Luiz Carlos Correa da Silva, no dia 19, em mais uma atividade do Dia do Basta – série local de atividades relacionadas ao combate ao fumo desenvolvida pela entidade há nove anos e com culminância no dia 31 de maio, o Dia Mundial sem Tabaco.

O tema “Tabaco: uma ameaça ao desenvolvimento” mira a questão financeira familiar como forma de alertar o fumante para além das complicações relacionadas à saúde. “Existe uma conscientização de que o cigarro faz mal, isso é fato. Então, começou a ser avaliado o que ocorre com uma família que tem um fumante”, explica Chatkin, eleito para a presidência da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) para o biênio 2019-2020. Esse núcleo sofre constantes fugas de capital, começando com o gasto do fumante em comprar cigarro, passando pelo custeio de um provável tratamento de saúde e, finalmente, até chegar ao ponto em que ele apresentará sinais de incapacidade para o trabalho.

“Isso afeta a geração seguinte, seja porque passou necessidades, ou porque a criança que enxergou seus pais fumando, seus ídolos mais próximos, torna-se um fumante também. Com isso fecha-se um círculo vicioso, só que em espiral negativa. Essa família não atingiu seus objetivos de evoluir, de crescer, de ter filhos saudáveis”, observa o pneumologista.O furo no bolso, no entanto, não é restrito ao orçamento familiar. O desfalque se irradia para o sistema público de saúde.

No Brasil, estima-se que o governo arrecade em torno de R$ 6 bilhões com os impostos gerados sobre a venda de cigarros, mas gaste mais de R$ 20 bilhões com o tratamento de doenças tabaco-relacionadas. “Nós não temos o poderio financeiro deles. Mas precisamos ter uma política de combate ao tabagismo, para que haja um alinhamento de objetivos. Isso é tão ou mais importante do que o tratamento individual”, comenta Silva.

Os subterfúgios utilizados pela indústria do tabaco foram outros aspectos levantados pelos médicos. As leis que ajudaram a banir a publicidade de cigarros em várias partes do mundo e o combate cada vez mais acentuado de organismos de saúde aos malefícios dessa substância fizeram com que novos mercados fossem procurados – principalmente China, Índia e países da África – e produtos diferentes inseridos nesse contexto – a importação do narguilé, o cigarro eletrônico e, agora, o Iqos, novidade da indústria do tabaco.

O Iqos é uma espécie de cigarro eletrônico que não queima a nicotina, apenas a aquece, o que, segundo a empresa diminuiria em 90% a inalação das toxinas em relação a um cigarro comum. “As reações da indústria estão aí, sempre com um aspecto malicioso”, alerta Chatkin. “Vendeu-se que o narguilé seria seguro por ter um filtro de água para reter as substâncias nocivas da fumaça, o que é uma mentira, porque os compostos são hidrófilos, não se diluem no liquido. Como a sessão de fumo do narguilé dura 3, 4 horas, é mais nocivo do que um cigarro. O modelo eletrônico é outra enganação, foi uma tentativa de trazer nicotina sem os malefícios da folha de tabaco, mas todas substâncias tóxicas estão lá. As novas formas de fumar são em alguns casos piores e em outros melhores, mas nunca isentas de risco”, esclarece.

Até a liberação da maconha para uso recreativo em alguns países está sendo ligada à indústria do tabaco por alguns artigos da comunidade científica que questionam tal prática. O uso da linguagem subliminar nos anúncios e o marketing em posicionar os cigarros nos ambientes de venda próximos a doces também são ações das corporações do tabaco condenadas pelos médicos. Para eles, é preciso usar da mesma tática marqueteira para continuar progredindo na luta contra o cigarro. Se a indústria procura associar seus produtos a artistas de cinema, é necessário contra-atacar e ligar quem deixou de fumar à vida saudável. “Ninguém até hoje se arrependeu de parar de fumar”, sustenta Silva.

Ele sabe que sobrepor o vício não é fácil. Dados da OMS indicam que menos de 6% das pessoas que decidem para de fumar sem ajuda conseguem sucesso passados 12 meses. Mas com programas como os desenvolvidos na Liga de Combate ao Câncer de Bento Gonçalves fica mais fácil. No ano passado, por exemplo, de uma turma de 19 pessoas, 14 conseguiram abandonar o hábito do cigarro, ou seja, mais de 70% deles obtiveram sucesso.

“Os que não conseguiram estão num novo grupo porque acreditam que podem parar. Nosso compromisso está em ajudar as pessoas a quitarem esse vício, adotando hábitos mais saudáveis, e também em evitar a iniciação, como forma de prevenção. Por isso estamos nessa força-tarefa de sensibilização e conscientização”, diz a presidente da Liga, Maria Lúcia Gava Severa. Até agora, a entidade já impactou cerca de 30 mil pessoas com as ações temáticas realizadas ao longo do mês.